Cinquenta e nove anos di Brasile...






Hoje, Doze de Setembro.

Neste dia, a cinqüenta e nove anos passados, pisei, pela primeira vez, uma Terra chamada Brasil.
Naquele dia eu não tinha a menor idéia que poderia passar tanto tempo num lugar estranho, cujas notícias me eram passadas como se fossem vindas deum planeta distante.  
Macacos que pulavam pelas arvores. O que seria um "macaco”? 
Diziam que alguns eram parecidos com cachorros, só que mais magros e rabos mais compridos. 
Comiam bananas e faziam uma algazarra danada na hora de disputar as melhores frutas.
Cobras e serpentes tão grandes que engoliam um homem inteirinho. Algumas chegavam a engolir uma vaca.
Onças espreitando na floresta os mais desavisados caçadores para esquartejá-los com as garras maiores que facas. Pareciam gatos gigantes. 
Índios. Pessoas parecidas com homens, mas que usavam cabelos compridos. Andavam quase nus. Usavam machadinhas e lanças pontiagudas para matar os inimigos para depois come-los cozidos num caldeirão gigantesco. Pele escura, coisa que só imaginava em carvoeiros. Podiam ser índios, mas também podiam ser negros. Estes eram diferentes. O cabelo era enroladinho e o nariz bem mais largo que o normal. Os lábios eram muito mais grossos, assim como a voz que saia deles. Muito valentes e perigosos também. Brigavam por qualquer coisa que não gostassem em você.
Desci do navio, olhando para todos os lados, procurando ver algum sinal desse lugar assustador. 
Agarrado na mão de meu pai que nos esperava em terra, fiquei mais tranqüilo quando ele nos disse que essas "coisas" existiam de verdade, mas estavam muito longe de onde iríamos morar por algum tempo. Um lugar chamado "San Paolo". Cheio de "gratacileli". Um lugar bem maior que Tufo. "Con molte machine per le strade"...
Esse "tempo" seria apenas o suficiente para "fazer a América" e retornar para Tufo, onde deixamos nossas vidas nos esperando.
Já que era assim, olhei em volta e descobri que o Porto de Santos não era tão diferente daquele porto do qual partimos vinte e dois dias antes. 
Minha mãe estava mais preocupada com o baú que deveria descer do navio pois ali estava tudo o que tinha conseguido trazer na viagem. 
A viagem de trem não foi exatamente uma novidade pois em Tufo eu conhecia até as Litorinas, trens muito modernos, que não faziam fumaça para correr pelos trilhos.
Para as bananas fui apresentado no mesmo dia e achei uma delícia. Comi quase meio cacho de uma vez. Depois é que fique sabendo tratar-se debananas ouro. Muito pequenas, por isso consegui comer tanto.
Hoje, após cinqüenta e nove anos, não encontrei as cobras gigantes pela estrada, as onças, os índios que matam e comem gente, os negros que possam me assustar, nem "fizemos a América" que nos fizesse retornar para Tufo. 
Ao contrario, descobri que Tufo veio junto comigo e posso visitá-lo quando eu quiser. 
Não costumo cultivar o hábito de comemorar datas ou aniversários. Mas não deixa de ser interessante lembrar que neste tempo todo, esqueci de como falar Italiano e ainda não consegui aprender a falar o Português corretamente.
Quando muito falo o BRASILEIRO que é a verdadeira língua deste país que me suporta há tanto tempo.
Esta mensagem é um MUITO OBRIGADO a todos os Brasileiros, indistintamente. Sejam eles nascidos aqui ou por adoção, come eu.

Reproduzo, novamente esta mensagem por não ter o que acrescentar.
Apenas troquei o seis pelo nove. Cinquenta e nove anos di Brasile...

Vai mais uma aí ?


Pois então tome uma saideira.
A conta é por nossa conta.